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Bem vindo à base de dados de espécies marinhas comerciais da Madeira. Esta página disponibiliza informação sobre a biologia, ecologia e pescas de espécies de peixes, crustáceos e moluscos da Madeira com interesse comercial ou detectadas na pesca experimental. Poderá aceder à ficha de cada espécie através da árvore taxonómica ou utilizando a barra de pesquisa. Esta base de dados está em permanente actualização.

A pesca na Madeira

A pesca no arquipélago da Madeira está condicionada pelas características ambientais desta região, em particular a estreita e abrupta plataforma insular, que limita de forma drástica o habitat disponível para as espécies costeiras e demersais, bem como os métodos de pesca que são praticáveis. Para além disso, a baixa produtividade destas águas oceânicas oligotróficas, que não beneficiam de episódios regulares de upwelling como sucede em vários locais da costa continental Portuguesa, impõe limites à abundância das espécies de peixes que aqui habitam. Estes factores fazem com que a actividade pesqueira na região se tenha concentrado principalmente na exploração de peixes de profundidade e espécies pelágicas migratórias. O sector das pescas na Madeira é ainda de um modo geral uma actividade tradicional, de pequena e média escala, tendo sofrido uma expansão nas décadas de 80 e 90 devido principalmente à introdução de avanços tecnológicos ao nível das embarcações e métodos de pesca. Mais recentemente as capturas sofreram algum declínio, como aliás tem acontecido de um modo geral em todo o mundo assim que a pesca atinge um certo patamar de desenvolvimento.

Fig. 1. Capturas totais na Madeira, em peso.



Fig. 2. Capturas totais na Madeira, em valor.



A pesca na Madeira é dominada por duas capturas principais: os tunídeos, que são capturados de forma principalmente sazonal, e o peixe-espada preto, que é capturado ao longo de todo o ano. Outros grupos de peixes importantes para a pesca são os pequenos pelágicos, conhecidos como "ruama", e os peixes demersais. Os crustáceos e os moluscos têm uma pequena expressão nas capturas, embora a actividade tradicional da apanha das lapas assuma alguma importância.

Tunídeos e similares

Os atuns são peixes pelágicos de grande porte, altamente migratórios e com elevado valor comercial. A pesca do atum é uma actividade importante na Madeira, praticada essencialmente durante os meses mais quentes, embora possam ser capturadas pequenas quantidades de algumas espécies de atum durante todo o ano. O método de pesca tradicional mais utilizado é o "salto e vara", em que é utilizado isco vivo, sendo os atuns atraídos com jactos de água que simulam a presença de um cardume de pequenos pelágicos.

Fig. 3. Método do salto e vara utilizado na pesca do atum.



Fig. 4. Atuns na lota do Funchal.



As espécies de tunídeos mais importantes na Madeira são o patudo (Thunnus obesus) e o gaiado (Katsuwonus pelamis), seguidos do voador (Thunnus alalunga). Outras espécies também capturadas mas em menor quantidade são o albacora (T. albacares) e o rabil (T. thynnus), espécie que sofreu um forte declínio em todo o Atlântico. Incluem-se ainda nesta categoria outros grandes pelágicos como o espadarte (Xiphias gladius), os veleiros e espadins (Istiophoridae). As capturas de tunídeos constituem uma proporção importante do total de capturas na região.

Fig. 5 - Proporção de tunídeos nas capturas totais, em peso.



Fig. 6 - Proporção de tunídeos nas capturas totais, em valor.



Peixe-espada preto

A pesca do peixe-espada preto é uma das pescarias de profundidade mais antigas do mundo, constituindo um dos raros exemplos de sustentabilidade deste tipo de pesca. O peixe-espada preto, ou espada-preta (Aphanopus carbo) terá sido descoberto acidentalmente no início do séc. XIX por pescadores que pescavam tubarões de profundidade para obtenção de óleo para aquecimento e iluminação. A qualidade e sabor deste peixe rapidamente o transformaram num importante recurso para a região, estatuto que mantém até hoje.

Fig. 7. A pesca de profundidade dirigida ao peixe-espada preto é das mais antigas do mundo.



O método utilizado na pesca da espada-preta é o palangre derivante. Este método manteve-se praticamente inalterado durante mais de um século, até que na década de 1980 as linhas tradicionais foram substituídas pelo monofilamento e passaram a ser utilizados mais anzóis.

Fig. 8. Capturas de peixe-espada preto na Madeira, em peso.



Pequenos pelágicos: "Ruama"

A captura dos pequenos pelágicos efectua-se durante a noite, com uma rede de cerco, sendo os cardumes atraídos por luzes. As principais espécies-alvo desta pescaria são o chicharro (Trachurus picturatus) e a cavala (Scomber colias), sendo também capturadas, mas em menor quantidade, a sardinha (Sardina pilchardus) e a boga (Boops boops). Os pequenos pelágicos são de um modo geral peixes que se alimentam de plâncton e de pequenos peixes plactófagos. A sua composição nutricional é muito benéfica à saúde humana, uma vez que são peixes ricos em ácidos gordos ómega-3, que ajudam a prevenir doenças cardiovasculares e são essenciais ao bom funcionamento do cérebro. O seu consumo é recomendado pela organização mundial de saúde, sendo particularmente benéfico nas mulheres grávidas e crianças, e ainda como forma de prevenir o declínio cognitivo na terceira idade.

Fig. 9. "Ruama" - cavalas e chicharros



Peixes demersais

Esta categoria inclui numerosas espécies de peixes de músculo branco, com elevado valor comercial e muito apreciadas pelos consumidores, mas que são menos abundantes na Madeira devido à ausência de uma extensa plataforma continental. Aqui salienta-se o pargo (Pagrus pagrus), o pargo capelo (Dentex gibbosus) e outros peixes da família Sparidae, a garoupa (Serranus atricauda), o cherne (Polyprion americanus) e os rascassos (Scorpaena spp.), espécies que chegam a atingir preços bastante elevados.

Fig. 10. Algumas espécies de peixes demersais.



Crustáceos e Moluscos

Os crustáceos e moluscos têm pouca expressão nas capturas, embora existam várias espécies comerciais. As lapas (Patella aspera e Patella candei) são a grande excepção, constituindo um importante recurso de interesse não apenas económico mas também gastronómico e turístico. A apanha da lapa é também uma actividade tradicional de subsistência para algumas populações costeiras.

Fig. 11. Lapas no mercado do Funchal.



A pesca grossa

Devido à sua localização oceânica, a Madeira encontra-se bem posicionada para a prática da pesca grossa, que constitui um tipo específico de pesca lúdica ou desportiva. A principal espécie-alvo desta actividade é o espadim azul (Makaira nigricans) e outros peixes da família Istiophoridae, sendo também capturados outros pelágicos de grande porte como o espadarte (Xiphias gladius) e até mesmo atuns (Thunnus spp.). A maioria dos exemplares capturados são libertados, sendo no entanto necessário que sejam realizados mais estudos sobre a taxa de sobrevivência dos mesmos. Este tipo de pesca insere-se num conjunto de actividades maritimo-turísticas, tal como a observação de cetáceos e a prática de desportos náuticos, que constituem uma importante fonte de receitas para a região, e cujo potencial para a promoção da Madeira como destino turístico se estende para além da importância da receita gerada directamente.


Referências

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